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Nova variante do SARS-CoV-2 é identificada no Brasil [16/03/2021]



Um estudo liderado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) identificou uma nova variante do SARS-CoV-2 no Brasil. Chamada de N9, a linhagem foi caracterizada como variante de interesse por conter uma mutação na proteína S do novo coronavírus, conhecida de E484K, que também é encontrada em outras variantes com grande disseminação no planeta. A alteração foi detectada em 35 amostras coletadas entre novembro de 2020 e fevereiro de 2021 em dez estados do Sul, Sudeste, Nordeste e Norte do país. A descoberta foi relatada em artigo em formato pré-print publicado na plataforma ‘Virological’.

De acordo com os autores do estudo, a mutação E484K pode contribuir para que o novo coronavírus escape do sistema imune, conferindo resistência a anticorpos monoclonais e reduzindo a potência de neutralização de alguns soros de indivíduos convalescentes e vacinados. Considerando que a alteração vem sendo encontrada em variantes surgidas em diferentes partes do mundo, os cientistas apontam para um provável processo de evolução convergente e adaptação do vírus ao hospedeiro humano.

Na lista de variantes de interesse que apresentam a mutação E484K estão as linhagens P2, detectada inicialmente no Rio de Janeiro, e B.1.526, encontrada em Nova York. Variantes de preocupação, que acumulam diversas mutações que modificam a estrutura da proteína S, também possuem essa alteração, incluindo as linhagens P1, identificada originalmente no Amazonas; B.1.351, detectada primeiro na África do Sul; e B.1.1.7, que emergiu no Reino Unido.

Para identificar a nova variante, os pesquisadores analisaram cerca de 1.250 genomas do SARS-CoV-2, referentes a amostras do Brasil, pertencentes à linhagem B.1.1.33. Entre estes, 442 foram decodificados pela Rede Genômica Fiocruz de março de 2020 a janeiro de 2021, enquanto os demais foram obtidos a partir do banco de dados Gisaid. Considerando todas as amostras submetidas ao sequenciamento genético entre novembro de 2020 e fevereiro de 2021, a variante N9 foi encontrada em 3% dos casos.

Os cientistas destacam sua ampla disseminação pelo país. Identificada, pela primeira vez, em São Paulo, a linhagem foi achada, em seguida, em Santa Catarina, Amazonas, Pará, Bahia, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí e Sergipe. Análises do genoma dos vírus indicam que a variante N9 surgiu em agosto de 2020. O estado de São Paulo é apontado como o local de origem mais provável, mas também é possível que a linhagem tenha aparecido na Bahia ou no Maranhão.

Considerando as duas linhagens que predominaram na epidemia de Covid-19 no Brasil no ano passado, chamadas de B.1.1.28 e B.1.1.33, as variantes P1, P2 e N9 têm origens diferentes. Enquanto as variantes P1 e P2 derivam da linhagem B.1.1.28, a variante N9 origina-se da linhagem B.1.1.33. Os autores da pesquisa chamam atenção para a emergência de três variantes com a mutação E484K no país e apontam para uma tendência de substituição completa das linhagens parentais.

“Acelerar a vacinação de toda população e a manutenção das medidas preventivas, como evitar aglomerações, usar máscara, lavar as mãos e usar álcool em gel, são estratégias fundamentais para diminuir a circulação viral. Quanto mais o vírus circula, maior a possibilidade de emergência de novas variantes e potencializa-se o risco de surgir uma variante capaz de escapar da resposta imune causada pela infecção natural ou pela vacinação", afirma a pesquisadora do Laboratório de Vírus Respiratório e do Sarampo do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), Paola Cristina Resende, que divide a primeira autoria do artigo com o pesquisador do Instituto Gonçalo Moniz (Fiocruz-Bahia), Tiago Graf.

A pesquisa foi realizada pela Rede Genômica Fiocruz, com participação de pesquisadores de diversos estados do país. O estudo foi liderado pelos Laboratórios de Vírus Respiratório e do Sarampo e de Aids e Imunologia Molecular do IOC/Fiocruz, Fiocruz-Bahia, Instituto Leônidas e Maria Deane (Fiocruz-Amazônia), Instituto Aggeu Magalhaes (Fiocruz-Pernambuco) e Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).

Também colaboraram com o trabalho: Fiocruz-Ceará, Instituto Adolfo Lutz (IAL), Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas e Laboratórios Centrais de Saúde Pública do Amazonas (Lacen-AM), Maranhão (Lacen-MA), Paraíba (Lacen-PB), Sergipe (Lacen-SE), Alagoas (Lacen-AL), Espírito Santo (Lacen-ES), Rio de Janeiro (Lacen-RJ), Minas Gerais (Lacen-MG), Paraná (Lacen-PR), Santa Catarina (Lacen-SC) e Rio Grande do Sul (Lacen-RS).

Maíra Menezes e Vinicius Ferreira
Ascom IOC/Fiocruz