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Vacinar contra o HPV na escola é uma estratégia de sucesso [24/06/2016]



Vacinar contra o HPV na escola é uma estratégia de sucesso
A vacinação é disponibilizada pelo Programa Nacional de Imunização, do Ministério da Saúde, para meninas de 9 a 13 anos
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Vacinar adolescentes é uma questão complexa. Nesta fase da vida, muitos desses jovens se acham invencíveis, saudáveis e dificilmente frequentam os consultórios médicos. No caso do HPV, a vacinação é disponibilizada pelo Programa Nacional de Imunização, do Ministério da Saúde, para meninas de 9 a 13 anos. Essa faixa etária foi definida porque a proteção deve ser feita antes do início da vida adulta, já que o vírus é transmitido pelo contato sexual. As jovens que receberem a vacina estarão livres do câncer do colo de útero.
 
A coordenadora do Programa Nacional de Imunizações, Carla Domingues, acredita que a escola é o ambiente ideal para orientar as adolescentes sobre a importância de garantir a proteção contra essa doença. 
“Desde que foi lançada a campanha em 2014, o Ministério da Saúde aconselha e estimula a participação das escolas. É a melhor estratégia para proteger as meninas. Quando a escola exerce o papel de mediador, o processo de conscientização fica mais fácil. Afinal, é nesse ambiente que elas passam grande parte do dia e estão em contato com os amigos, recebem informações e são instruídas”, relata Carla Domingues, em evento sobre vacinação contra o HPV realizado em São Paulo (15/6) pela Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIM).
Para a presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIM), Isabela Ballalai, seria ideal se a vacinação nas instituições se tornasse rotineira, como acontece em outros países. “Ainda não temos essa cultura no Brasil. Os motivos são variados, às vezes os municípios estão mal estruturados para realizar ações extramuros e carecem de pessoal. Às vezes, as escolas não querem dividir a responsabilidade, com receio de eventuais reações adversas”, lamenta Isabela.
 
Integrar as escolas na campanha
 
O diretor do colégio estadual Júlia Wanderley, em Curitiba, Cristiano Gonçalves, se lembra da mobilização ocorrida em 2014. “Naquele ano, falou-se muito nessa campanha nas mídias, tínhamos cartazes colados nos corredores. Quando fomos vacinar as alunas, elas já sabiam do que se tratava. Também aproveitamos o evento para explicar o tema nas aulas de biologia”, relembra.
 
Cristiano acredita igualmente na importância do colégio participar nesse processo. “É de grande relevância incluir as instituições de ensino no processo. Nossas portas estão abertas para novas mobilizações e para colaborar nas atividades de proteção à saúde das nossas alunas”, finaliza.
 
No Paraná, o coordenador de imunizações da Secretaria Estadual de Saúde, João Crivellaro, explica que a adesão das escolas aconteceu aos poucos, mas foi exitosa. “Desde 2014, o estado tenta mobilizar, inclusive com campanhas nas mídias e redes sociais. No entanto, a estratégia final fica a cargo de cada município e varia muito. Esperamos que a adesão continue no futuro”, declara.
 
O coordenador também comenta a resistência inicial sobre o diálogo a respeito do HPV, devido a sua transmissão ser dar por via sexual. “No começo, encontramos certa dificuldade, existem crendices e tabus em torno do vírus, mas finalmente tivemos uma boa adesão na primeira etapa, inclusive nos estabelecimentos particulares de cunho religioso”, comemora Crivellano.
 
No município do Rio de Janeiro, o esforço é para mobilizar a rede de ensino em prol da causa. “Desde o início tivemos a adesão das escolas municipais da rede pública. O tema também é trabalhado pelo programa Saúde na Escola e pela equipe do Rap na Escola, que criou um vídeo sobre o assunto, posteriormente divulgado entre os alunos e em nossas redes sociais”, destaca a superintendente de vigilância em saúde da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, Cristina Lemos.
 
Assim como no Paraná, a idade precoce para vacinar gerou algumas indagações no Rio de Janeiro. “Em 2014, tivemos certa resistência. As famílias mais religiosas tinham receio. Falou-se que poderíamos estimular precocemente a sexualidade. Hoje, conseguimos desconstruir esse mito. Realizamos um trabalho prévio conversando com os pais, e aos poucos fomos vendo a rejeição diminuir”, relata Cristina.
 
Vacinar para prevenir
 
O HPV é o responsável por 99% dos casos de câncer do colo do útero. Todo ano no Brasil, mais de 16 mil ocorrências são notificadas, sendo esse o terceiro câncer que mais atinge as mulheres. Por isso, a relevância de se prevenir por meio da vacina, que protege contra os tipos mais cancerígenos do vírus. Para ser imunizada de fato é importante que a jovem receba as duas doses, com um intervalo mínimo de seis meses e máximo de 15 meses entre cada uma.
 
Mulheres soropositivas de 9 a 26 anos também podem procurar os postos de saúde para serem vacinadas.
 
Na rede privada, mulheres até 45 anos e meninos e jovens de 9 a 26 anos também podem ser imunizados contra o HPV, por estar relacionado com outros tipos de câncer, como boca, esôfago, anus e pênis.
 
Juliana Hack