Notícias

A revolução da Coordenação de Hepatites Virais [15/07/2016]



A revolução da Coordenação de Hepatites Virais
A influência dos novos padrões brasileiros já se faz sentir em vários países do mundo, na forma de redução de preços e adoção do novo Protocolo
______________________________________________
 
Há dois anos, sem alarde, a pequena equipe da Coordenação de Hepatites Virais vem empreendendo uma discreta revolução no Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde – bem como nas vidas de milhares de pacientes acometidos pela doença no Brasil. De forma despretensiosa e incansável, amparada pela diretoria do Departamento, a Coordenação vem enfrentando o instável cenário político brasileiro para consolidar o que, hoje – globalmente –, é considerado por muitos um dos melhores protocolos para o tratamento de hepatite viral C no mundo.
 
Lançado em 2015 após intensa revisão de literatura, o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Hepatite C e Coinfecções já resulta em taxa de cura superior a 95% entre os primeiros pacientes tratados no Sistema Único de Saúde (SUS). O tratamento, que dura entre 12 e 24 semanas, usa medicamentos que têm pouquíssimos efeitos colaterais: sofosbuvir, daclatasvir e simeprevir. Mas não é só: no Brasil, o custo desses medicamentos – muito alto em todo o mundo – foi drasticamente reduzido após intensa negociação pelo Ministério da Saúde. Como não poderia deixar de ser, a redução nos preços vem resultando num salto no número de pacientes tratados pelo SUS: em 2015, foram realizados 15.821 tratamentos; em 2016, até agora, mais de 15 mil pacientes já iniciaram tratamento – e a previsão do Departamento é que mais 30 mil pacientes recebam os novos antivirais até o fim do ano.
 
A influência dos novos padrões brasileiros já se faz sentir em vários países do mundo, na forma de redução de preços e adoção do novo Protocolo. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o país é – ao lado de Ucrânia e Mongólia – um exemplo a ser seguido, sendo o único país com renda média no grupo. Em 2014, no Brasil, o tratamento custava entre US$ 19 mil e US$ 20 mil ao ano; em 2015, esse custo oscilou entre US$ 11,100 e US$ 9,425. Para o ano de 2016, a previsão é que cada tratamento para hepatite C irá custar US$ 5,300 aos cofres públicos.
 
DIA MUNDIAL
 
O mês de julho abriga o Dia Mundial de Combate às Hepatites Virais, celebrado no dia 28. A data foi instituída em 2010 pela OMS e, desde então, o DDAHV vem cumprindo uma série de metas e ações integradas de prevenção e controle para o enfrentamento da doença no Brasil.  Hoje, estima-se que a hepatite C afete mais de 185 milhões de pessoas em todos os continentes, e que seja responsável por cerca de 350 mil mortes por ano.
 
Mas o foco do Brasil não está apenas no tratamento da hepatite C, evidentemente. No último mês de junho, uma nova versão do Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Hepatite B e Coinfecções – lançado em 2011 e agora acrescido de recomendações feitas pela OMS, entre outras – foi aprovada pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec) e segue para consulta pública, para receber contribuições. Em seguida, o Protocolo será reavaliado, encaminhado para publicação e incorporado.
 
MÉRITO
 
Aos 32 anos, o jovem coordenador de Hepatites Virais do Departamento, Marcelo Naveira – médico infectologista formado pela Faculdade de Ciências Médicas de Santos (SP), mestre em Saúde Pública pela Johns Hopkins Bloomberg School of Public Health (EUA) e com experiência no estudo da hepatite C em vários países –, é reticente ao assumir a autoria dos recentes avanços da área: “O mérito é de todo o Ministério da Saúde, da diretoria do Departamento, da equipe da Coordenação de Hepatites Virais, dos gestores do SUS e da sociedade civil”, diz.
 
Em 2014, ONGs de apoio a infectados com hepatite C reuniram mais de 65 mil assinaturas em abaixo-assinado para pedir a redução dos preços dos medicamentos disponíveis no SUS para o tratamento da doença. O pedido foi bem-sucedido e, em dezembro do mesmo ano, representantes dessas ONGs visitaram o DDAHV e desfraldaram uma enorme bandeira de 240 metros – assinada por infectados, familiares e simpatizantes da causa – diante do prédio do Departamento, em sinal de apoio à gestão das hepatites no Brasil.