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Documentários mostram rotina de medo e de silêncio que envolve os partos no país [07/01/2015]



Documentários mostram rotina de medo e de silêncio que envolve os partos no país
A série dá voz aos números da pesquisa Nascer no Brasil
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A série dá voz aos números da pesquisa Nascer no Brasil, coordenada pela Fiocruz, em parceria com diversas instituições científicas. O maior levantamento já realizado sobre parto e nascimento no país revelou dados alarmantes, como taxas muito elevadas de cesariana. A diretora Bia Fioretti acompanhou a coleta de dados para a pesquisa, em 2011 e 2012, viajando por todas as regiões e conversando com 174 pessoas, entre mães, pais e profissionais de saúde, em 23 instituições públicas e privadas. As entrevistas deram origem aos documentários que compõem a série: Parto, da violência obstétrica às boas práticas e Cesárea, mitos e riscos.
 
“O grande mérito da pesquisa foi colocar no papel a realidade de violência que marca os nascimentos no país. Fizemos os vídeos para mostrar que, por trás de cada número do inquérito, há um rosto, uma voz”, justifica Bia.
 
A pesquisa Nascer no Brasil mostrou que a cesariana é feita em 52% dos nascimentos, sendo que, no setor privado, o percentual é de 88%. A recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) é de que somente 15% dos partos sejam realizados por meio desse procedimento cirúrgico. Nos vídeos, fica evidente o quanto a escolha pela intervenção cirúrgica, em vez do parto natural, é estimulada pela reprodução de mitos e ideias equivocadas.
 
Os vídeos lançam luz não apenas ao alto índice de cesarianas, mas também ao uso corriqueiro de procedimentos e métodos que provocam desconforto às mulheres e, em muitos casos, são verdadeiras violências. São práticas como a “manobra de Kristeller” — quando o médico faz pressão sobre a barriga da mulher, para expulsar o bebê —, constatada em 36% dos partos. Outro procedimento comum é o uso de soro com ocitocina, hormônio sintético que acelera as contrações no útero, aumentando a dor e tornando o parto mais rápido. “Eu não aguentava mais o soro, a dor, e me joguei no chão. Eu não tinha mais forças para levantar. A dor estava demais. Aí eu me ajoelhei no chão e lá mesmo eu urinei. O médico que viu disse que eu não tinha Deus no coração. Que aquilo ali era uma coisa horrível”, relata uma das entrevistadas.
 
Nem tudo nesta série de DVDs é, porém, desencanto. Grande parte dos vídeos mostra práticas bem-sucedidas de atenção ao parto e ao nascimento. Com a palavra, uma das mulheres que experimentaram o parto humanizado num hospital da rede pública: “As pessoas falam coisas horríveis de um parto. Que é ruim, que é desesperador. Para mim foi ruim também, foi desesperador, mas, ao mesmo tempo, maravilhoso.”
 
Juliana Krapp
 
* O Jornal da Saúde é um telejornal ao vivo. Exibido todo dia, às 13h. Reprise às 16h30 e às 18h30. Veja vídeos de nossas edições anteriores.
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