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Rio ganha 12 murais artísticos feitos por alunos de curso na Fiocruz [23/08/2016]



Rio ganha 12 murais artísticos feitos por alunos de curso na Fiocruz

Cerimônia de encerramento das aulas é nesta quarta-feira, na Tenda da Ciência

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A cidade do Rio de Janeiro terá 12 murais artísticos executados em afresco por alunos do curso “A Arte e a Técnica do Afresco”, cujo encerramento será marcado em cerimônia no próximo dia 24 de agosto, às 14 horas, na Tenda da Ciência Virgínia Schall do Museu da Vida, no campus da Fiocruz, em Manguinhos. A iniciativa da Casa de Oswaldo Cruz (COC) / Fiocruz foi coordenada pela Oficina-Escola de Manguinhos (OEM). Foram contemplados cinco edifícios de uso público (igrejas, biblioteca e museu) localizados em Manguinhos (Biblioteca Parque de Manguinhos e Igreja São Jerônimo Emiliani), Maré (Igreja Nossa Senhora dos Navegantes) e Jacarepaguá (Igreja São José Operário, edificação remanescente das remoções realizadas na Vila Autódromo, e Museu Bispo do Rosário arte Contemporânea). O evento incluirá o lançamento de dois filmes da cineasta Cristiana Grumbach. Um deles registra a experiência do curso; o outro, intitulado “Bandeira de Mello e a arte do afresco”, é a segunda edição da série Mestres e Ofícios da Construção Tradicional Brasileira, que tem como objetivo registrar e divulgar o universo dos ofícios tradicionais que permeiam o patrimônio arquitetônico brasileiro. Alguns murais ainda estão sendo executados, devendo ser concluídos em setembro.

Obras em vários bairros da cidade

O curso “A Técnica e a Arte do Afresco” beneficiou espaços importantes abertos ao público, entre os quais a Biblioteca Parque de Manguinhos. Nesse edifício, os murais ocupam as paredes internas do foyer do Cineteatro Eduardo Coutinho e foram pintados por Alex Nery e Juciney Barbosa (Nen), que buscaram inspiração no tema conhecimento; Chung Cheng Hssiung (Aiyon Chung), cujo projeto teve como base a capoeira que, em 2014, foi declarada Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade; Wesley Nunes Dantas, que retratou a antiga procissão marítima de São Pedro, realizada durante anos pela família Jaqueta do Morro do Timbau, na Maré, e Vinicius Queiroz Gomes, que reuniu elementos da cultura popular inspirados na Obra de Ariano Suassuna e no simbolismo de Glauber Rocha com a obra “Noturno em Manguinhos”.

Também em Manguinhos, na comunidade de Varginha, a igreja São Jerônimo Emiliani, visitada pelo Papa Francisco durante a Jornada Mundial da Juventude em 2013, ganhou a obra “Teofania”, projeto executado por Marcos Teixeira. Na Maré (Zona Norte do Rio) a Paróquia Nossa Senhora dos Navegantes recebeu as obras “Crucificação”, do artista e aluno Virgílio Dias na Capela do Santíssimo; “Pães e peixes” de Vladimir Valente que faz alusão ao milagre da multiplicação e o mural coletivo pintado por Fábio Cerdera, com a obra “Aparição do Divino”, e Rafael Bteshe, com a obra “Os pescadores do Evangelho.

O conjunto inclui as obras “Virgem Maria” e “São José Operário”, de Renato Alvim, na Igreja São José Operário, na Vila Autódromo, em Jacarepaguá; e “Celebração” de Flávio Albano Soares, no acesso ao Museu Bispo do Rosário Arte Contemporânea, na sede do Instituto Municipal de Assistência à Saúde Juliano Moreira, na Taquara (Zona Oeste).
Para executar os murais (trabalhos de conclusão do curso), os alunos tiveram colaboradores. Os auxiliares – alguns moradores de comunidades próximas aos edifícios escolhidos para receber as pinturas – ficaram responsáveis pelo preparo da massa e a organização do espaço e também aprenderam a técnica do afresco, como contrapartida dos alunos, visando à transmissão e à multiplicação da arte. Diretor da Casa de Oswaldo Cruz, o historiador e pesquisador Paulo Elian ressaltou a seleção das áreas do projeto e a participação do pintor Lydio Bandeira de Mello:

“Este projeto é a combinação perfeita de nosso compromisso com o tema do patrimônio cultural e da sua relação com a cidade. A escolha desses espaços públicos para execução dos murais de afresco coroa uma iniciativa da qual muito nos orgulhamos. Porém, vale destacar que nossa grande fonte de inspiração foi o artista Bandeira de Mello, generoso, criativo e um parceiro incansável na concepção desse presente que oferecemos à cidade do Rio de Janeiro”, afirmou.
A iniciativa tem gestão cultural da Sociedade de Promoção da Casa de Oswaldo Cruz (SPCOC) e patrocínio da Secretaria Municipal de Cultura da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro por meio do Programa de Fomento à Cultura Carioca e da Fundação para o Desenvolvimento Científico e Tecnológico em Saúde (Fiotec), e das empresas Sanofi e Concremat, através de Lei Federal de Incentivo à Cultura. Contou ainda com apoio da Universidade Santa Úrsula, da Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro e do Senai-RJ.

O curso

O curso “A Arte e a técnica do Afresco” é uma realização da Oficina-Escola de Manguinhos, vinculada ao Núcleo de Educação Patrimonial do Departamento de Patrimônio Histórico da Casa de Oswaldo Cruz (OEM/DPH/COC). A coordenação ficou a cargo de Cristina Coelho, mestre em arquitetura, história e preservação do patrimônio cultural; e Débora Lopes, especialista em preservação de acervos de ciência e tecnologia. A iniciativa tem como objetivo preservar a pintura mural, uma forma de expressão artística com cerca de 5 mil anos.
O afresco consiste em pintar diretamente sobre o revestimento ainda fresco (daí o nome da técnica) da parede, em argamassa de cal, com pigmentos diluídos em água que penetram e a ele se fundem. O processo resulta em uma pintura com grande riqueza de efeitos, desde a transparência das aquarelas até a opacidade das têmperas, e livre de reflexos, o que garante sua leitura a partir de qualquer ângulo de observação.
O afresco é uma arte com grande expressão na Europa, em especial na Itália. No Brasil, ganhou evidência no início do século 20 com as obras monumentais do ecletismo e do modernismo arquitetônico brasileiro, mas nas últimas décadas a produção é pouco expressiva. O curso, que teve uma grade de disciplinas e um corpo docente adequado à proposta de resgate dessa arte e técnica, contou com o pintor Lydio Bandeira de Mello como professor titular.

Sobre Lydio Bandeira de Mello

Aos 87 anos, o mineiro Lydio Bandeira de Mello é pintor e desenhista. Estudou na Escola Nacional de Belas Artes em 1951, destacando-se pelo talento e apuro técnico. Passou uma temporada na Itália, entre 1961 e 1962, período em que se dedicou a estudar grandes muralistas da Idade Média e do Renascimento. Dessa época, são destaques dois painéis no Santuário de Poggio Bustone; em uma ermida (pequena igreja) construída por São Francisco de Assis em 1209 e reconstruída parcialmente após ser atingida por terremoto em 1948.

Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz)